Padarias têm 10 mil vagas abertas por falta de qualificação

O padeiro, profissão das mais tradicionais no país, tem feito falta ao setor de panificação no Brasil. Segundo a Abip (Associação Brasileira da Indústria da Panificação e Confeitaria), encontrar mão de obra qualificada tem sido a grande dificuldade do setor, que vem registrando crescimento contínuo apesar da crise econômica.

"A falta de profissionais qualificados é o grande gargalo do nosso setor", que prevê alta de 13% no faturamento neste ano, para R$ 50 bilhões, afirmou Alexandre Pereira, presidente da associação. De acordo com ele, o deficit de mão de obra no setor deve estar em torno de 10 mil trabalhadores em todo o país.

Para o presidente do Sindipan-SP (Sindicato da Indústria de Panificação e Confeitaria de São Paulo), Antero Pereira, porém, o número é bem maior do que este. "Se nós tivéssemos mão de obra qualificada, só o Estado de São Paulo absorveria esses 10 mil trabalhadores. Qualquer padaria hoje tem placas à procura de funcionários", disse.

As padarias e empresas de panificação são responsáveis por 760 mil postos de trabalho no Brasil. "Há lojas que não conseguem abrir há um mês porque não conseguem contratar trabalhadores", afirmou Márcio Rodrigues, presidente do Propan (Programa de Apoio à Panificação).

Alexandre Pereira explicou que o setor contrata muitos trabalhadores que buscam o primeiro emprego, mas o índice de permanência na panificação é baixo. "O nosso trabalho é de segunda a segunda e o pessoal gosta de folgar aos finais de semana. Só quando a pessoa não arruma outro emprego é que vai procurar a padaria", completou Antero, do Sindipan-SP.

Por lei, os trabalhadores têm de folgar ao menos um dia por semana, mas como o trabalho é maior nas padarias aos finais de semana, as folgas costumam ser dadas em outros dias da semana. De acordo com Antero, porém, os padeiros tem ao menos um domingo livre por mês.

Cursos

Um profissional não qualificado ganha em média R$ 723,00 mensais em padarias com até 60 funcionários e cerca de R$ 780,00 em estabelecimentos maiores. Com a qualificação a renda média pode dobrar, segundo o presidente do sindicato de São Paulo.

'Para a mão de obra qualificada, o salário mínimo é de R$ 1.400 para padeiros, chegando a R$ 1.800 para confeiteiros. Dependendo da qualificação e do produto, esses números podem chegar a R$ 4.000 para confeiteiros, e R$ 2.500 para padeiros', disse Antero Pereira. 'As pessoas que buscarem qualificação têm emprego garantido no setor', afirmou o presidente da Abip, Alexandre.

O sindicato do setor em São Paulo possui uma escola--certificada pelo Ministério da Educação--, que oferece 50 cursos aos trabalhadores que quiserem se aprimorar na área. Anualmente, o local treina cerca de mil pessoas em cursos básicos ou especializações mais longas --todos com 50% de vagas gratuitas, número estipulado pelo governo.

De acordo com os profissionais, porém, a maioria dos trabalhadores só busca o curso depois de conseguir o emprego, orientado pela empresa em que trabalha.

É o caso de Daniel Razurck, 38, que conclui em janeiro o curso de técnico em Alimentos em Panificação e Confeitaria --com duração de 18 meses. Confeiteiro de uma doceria em São Paulo, ele já trabalha no setor há dez anos, mas só agora decidiu fazer o curso. "Estou aprimorando as técnicas de produção, lançando produtos novos da doceria." Para ele, o curso é importante para que o profissional se posicione melhor no mercado.

Christiane Ferr, 47, aluna do curso técnico em Panificação, foi procurar a especialização logo que decidiu se dedicar à profissão. Depois de trabalhar durante anos como executiva de marketing, ela resolveu "dar uma virada" e começar a vender os doces produzidos em casa.

"Estou gostando muito do curso, porque ele ensina não só a ser padeiro, mas também a gerenciar o negócio", afirmou ela, que já contratou uma colega de classe para ajudá-la e espera crescer o negócio ainda mais daqui em diante.

Capacidade

De acordo com Paulo Sciamarelli, diretor-executivo do IDPC (Instituto do Desenvolvimento de Panificação e Confeitaria), a escola poderia, com a capacidade atual, receber até 500 alunos a mais do que o número atual.

Entre os cursos, há aqueles mais curtos, com duração de 31 dias nas áreas de panificação e confeitaria, com custos entre R$ 250,00 e R$ 300,00, já com a inclusão de materiais, uniforme e matéria-prima; e os mais longos, como o de técnico em alimentos, com aulas durante um ano e oito meses e mensalidades de R$ 220,00.

Os interessados em fazer os cursos e também pedir isenção da mensalidade devem procurar o Sindipan-SP (veja o site da entidade).

>> GIULIANA VALLONE - da Folha Online

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