Entre eles e elas



Alvo de preconceito dos heterossexuais e dos gays, bissexuais defendem suas preferências

Por: CARINA RABELO 
 
 
MURILLO CONSTANTINO/AG. ISTOÉ
CORAÇÃO ABERTO Daiene diz que se apaixona
por pessoas, independentemente do sexo


Eles não são necessariamente afeminados, nem elas, masculinizadas. Não gostavam de jogar bola e brincar de boneca ao mesmo tempo, não usavam roupas do sexo oposto, mas, desde cedo, gostavam de meninos e meninas. Hoje, em vez de disputarem pretendentes com pessoas do mesmo sexo, incluem os “rivais” nas possibilidades de relacionamento, ampliando em 50% a chance de um encontro com a almejada cara-metade. “Os bissexuais têm o comportamento igual ao de qualquer pessoa do mesmo sexo que seja heterossexual. A diferença está apenas no desejo sexual”, explica a ginecologista e terapeuta sexual Glene Rodrigues. O tema polêmico voltou à arena dos debates nacionais depois que Marcelo Arantes, 31 anos, participante do último Big Brother Brasil, assumiu ser bissexual e Thatiana Bione, 20, que também participou do programa, revelou já ter beijado mulheres.
Mas a pluralidade no desejo vem acompanhada de um alto preço: o preconceito. Os bissexuais são alvo de críticas de todos os lados. Os heterossexuais os responsabilizam pela transmissão da Aids e os homossexuais os acusam de camuflarem a verdadeira opção gay e enfraquecer a luta por direitos iguais. “Não existe bissexualidade pela psicologia. As pessoas que se dizem bi são, na verdade, homossexuais que não têm coragem de se assumir”, afirma o psicólogo e especialista em sexologia Arnaldo Risman. “A maioria dos bissexuais são gays que se protegem do preconceito e raramente se engajam na causa GLS”, acusa o fundador do Grupo Gay da Bahia, Luiz Mott.
A polêmica sobre se a bissexualidade existe é falsa para quem sente atração por homens e mulheres. “É como obrigar alguém a escolher entre pessoas loiras ou morenas. Não se pode gostar dos dois?”, questiona o ator e modelo Felipe Defall, 18 anos, que namora garotos e garotas desde os 11 anos. “É simples. Nós nos apaixonamos por pessoas, sem rótulos. O sexo é apenas uma questão secundária”, resume a professora de educação física Daiene Cruz Mercado, 25 anos.
PRECOCE Felipe, 18 anos, namora
meninos e meninas desde os 11

Na maior pesquisa sobre sexualidade brasileira, coordenada por Carmita Abdo, do Projeto Sexualidade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, 3,1% das mulheres se declararam homo ou bissexuais. Entre os homens, 3,9% afirmaram ter práticas homossexuais e 4,7% bissexuais. No total, foram ouvidas 2.835 pessoas, em 2001, em seis capitais e algumas cidades paulistas. A crescente contaminação de mulheres casadas pelo HIV também jogou luz sobre os homens bissexuais ocultos. Estima-se que 80% delas tenham sido infectadas pelos maridos que, paralelamente, mantinham relação com homens.
Nem uma relação monogâmica de longo prazo é motivo para questionar a bissexualidade, segundo uma pesquisa de janeiro passado da Universidade de Utah (EUA). De acordo com o estudo, 89% das mulheres bissexuais mantêm a orientação sexual mesmo quando envolvidas em uma relação estável com um único parceiro. “A sociedade caminha para um modelo único de relacionamento na medida em que o homem perde características tipicamente masculinas e a mulher absorve estas características”, explica o pesquisador e médico italiano Umberto Veronesi, estudioso da sexualidade humana. “O prazer com os dois sexos é a evolução natural da espécie humana”, aposta.
NA TEVÊ O big brother Marcelo
assumiu ser bi no programa

Mas, apesar do desejo duplo, os bissexuais costumam ter preferências. Em geral, elas tendem a rejeitar os machões e não resistem aos tipos sensíveis, companheiros e que gostam de discutir a relação. Eles, por sua vez, evitam mulheres frágeis, preferindo as mais fortes e determinadas. “Com as muito sensíveis, a gente tem de ter mais cuidado com o jeito de falar. Os homens são mais desencanados”, opina Ajams Smytt, 20 anos. O funcionário público Rodrigo Santana conversa abertamente sobre a sua bissexualidade com a esposa, sua parceira há cinco anos. “Ela sabe que já tive um namorado e, quando saímos, admiramos juntos os homens bonitos”, conta ele, que diz ter encontrado nela a parceira ideal para viver seus desejos sexuais na plenitude.

BISSEXUAIS HISTÓRICOS
Ao longo dos anos, não faltaram exemplos de personalidades que assumiram gostar de ambos os sexos:


Alexandre, o Grande
O rei da Macedônia, conhecido pela sua virilidade e bravura, teria se apaixonado por Hephastion, um amigo de infância com quem manteve uma relação de anos. Mas nunca deixou de se relacionar com mulheres, entre elas a princesa Roxane, da Pérsia.



Frida Kahlo
Apesar da paixão pelo seu marido, Diego Rivera, e do envolvimento com León Trotsky e o poeta André Breton, a pintora mexicana se relacionou com as atrizes Dolores Del Rio, Maria Felix e Paulette Goddard e a artista plástica Georgia O’Keeffe.


Simone de Beauvoir
Na obra O segundo sexo, a escritora fala abertamente da sua bissexualidade e das relações que mantinha com as alunas. Ela defendia os triângulos amorosos e se relacionava com o filósofo Jean-Paul Sartre, com quem compartilhava amantes.

Revista ISTOÉ 

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