Em tempos de discussão sobre orgulho gay e orgulho hétero,
3% da população brasileira diz sofrer preconceito de ambos os lados.
São os bissexuais --mais de 5 milhões no país, segundo
pesquisa Datafolha de 2009. Na próxima sexta, dia 23/09, eles vão comemorar o Dia
do Orgulho Bissexual.
Um deles é Fábio*, 17. "Sinto atração pela beleza dos
dois", diz. "As mulheres são mais meigas e suaves, já os homens têm
pegada forte, são mais rústicos."
Como ele, a estudante de ciências sociais Maraiza Adami, 23,
também é bi. Ela reclama:
"Os héteros acham que ser bi é transitório ou
promíscuo. Já os gays, principalmente dentro do movimento LGBT, acham quase uma
agressão você ficar com alguém do sexo oposto."
Especialistas em sexualidade tentam entender as razões do
duplo preconceito. O psiquiatra Alexandre Saadeh, especialista em identidade
sexual do Hospital das Clínicas, lembra que é muito comum que a bissexualidade
seja vista como uma fase anterior à confirmação da homossexualidade.
Esse mito incomoda tanto Ilana Falci, 21, de Belo Horizonte,
que ela quer editar um vídeo com vários bissexuais dando o seu depoimento.
"O bi não é uma pessoa em dúvida", diz ela. "Não precisa decidir
se gosta mais de homens ou de mulheres."
O projeto de Ilana se chama "Sou Visível". É
possível encontrar mais informação sobre ele em bisides.com.
Esse site foi criado por outra bissexual, a estudante de
secretariado executivo Daniela Furtado, 24. Um dos seus objetivos é utilizar a
página para discutir como lutar contra o que ela chama de "bifobia".
Os participantes do site reclamam que, apesar da sigla LGBT
incluir os bissexuais, gays e lésbicas "negam lugar" a eles no
movimento. "Eles se sentem no direito de nos olhar com desconfiança",
diz um dos textos. "Então eu pergunto: o que gays e lésbicas propõem que
nós façamos quando o sexo de quem amamos é diferente do nosso?"
Daniela já namorou tanto meninas quanto meninos. Atualmente,
está há três anos com
Danilo Milhiorança, 25, que é heterossexual.
"Ela foi muito honesta comigo e sempre me fez sentir
seguro, então está tudo certo", diz o rapaz.
Entre os bissexuais famosos, estão os cantores David Bowie e
Lady Gaga, o vocalista do Green Day, Billie Joe Armstrong, e as atrizes Megan
Fox e Angelina Jolie.
ALGO CURIOSO
Nem todo mundo, porém, é tão convicto da sua bissexualidade
quanto esses famosos. E não há nada de errado nisso, diz Maria Helena Vilela,
educadora sexual e diretora do instituto Kaplan, que faz estudos sobre
sexualidade.
Na adolescência, afirma, é comum a confusão entre admiração
e tesão. Muitos jovens, então, acabam tendo experiências com o mesmo sexo, com
amigos, por exemplo.
Mas isso não necessariamente os faz homo ou bissexuais, já
que a identidade só é completamente estabelecida na fase adulta.
"Os adolescentes têm hormônios saindo pelos ouvidos e
maior disponibilidade para o sexo, então é mais complicado separar a
curiosidade", explica Saadeh.
Lúcia*, 18, por exemplo, só transou com garotos, mas, desde
o começo do ano, tem experimentado ficar com algumas amigas. "Nunca tinha
cruzado minha mente a ideia de ficar com meninas, mas rolou um dia e eu gostei,
então estou vendo o que realmente quero", diz.
*Nomes fictícios
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