Quando Érica Santos resolveu propor uma mudança na forma de
atendimento da Politupan – empresa em que atua como auxiliar administrativa –
já imaginava que sua sugestão facilitaria o andamento do trabalho. "Eu sugeri que nós mesmos, na época
atendentes, respondêssemos ao cliente qual seria o prazo de entrega, valores,
etc. Assim o gerente se preocuparia com outros processos".
Logo, a idéia dela surtiu um efeito bastante positivo.
"O cliente sai mais satisfeito com a
nossa agilidade e estamos mais competitivos no mercado", conta Érica,
destacando que ali sempre foi assim. "Tenho
total abertura para dar opiniões e tomar decisões que visam o melhor para a
empresa. É muito bom saber que existe confiança no meu trabalho",
comenta.
A situação não foi muito diferente com a técnica
administrativa Caroline Barros, que, apesar de nova na Opus Seguros, tem
liberdade na tomada de muitas decisões. "Todos na empresa tem voz ativa e podem se expressar de forma clara e
direta. Isso faz com que nos sintamos valorizados. É bastante motivador",
explica Caroline. Para ela, esse modelo de gestão faz com que aprenda mais
sobre as tarefas. "Com as experiências
anteriores que tive, posso dizer que esse método é muito eficaz. Ele permite
que líderes conheçam mais o potencial de seus colaboradores", conta.
A situação vivida por Érica e Caroline mostra uma tendência
cada vez mais presente no modo como as empresas se administram, na qual se
trabalha a delegação e a liberdade de ações entre os funcionários. De acordo
com o professor e diretor nacional do curso de Administração da ESPM, Ilan
Avrichir, esse formato é chamado de empowerment.
"Na Administração, sempre que usamos esse
termo, estamos nos referindo às maneiras como os trabalhadores que não são gerentes
são autorizados por esses a tomar decisões autonomamente, sem consultar um
chefe. Quase sempre o empowerment é alcançado ao proporcionar uma atmosfera
emocionalmente positiva, reconhecer e recompensar os sucessos dos subordinados
de forma visível, expressar e estimular as iniciativas", comenta.
O professor Ilan explica ainda que o modelo já é adotado por
grandes empresas, tidas como referências, a exemplo de Nordstrom, Google, Dell,
Natura e Toyota. E, pelo sucesso delas, não é nem preciso perguntar se o
empowement funciona bem.
Um recente estudo divulgado pela Universidade da Califórnia
sobre o tema, feito por meio de uma meta-análise – técnica sofisticada que
permite consolidar os resultados de pesquisas diversas – concluiu várias
vantagens que o empowerment pode trazer, como satisfação no trabalho,
comprometimento com a organização, mais inovação, melhora da produtividade das
equipes, redução do estresse, do absenteísmo e da rotatividade de funcionários.
Liberdade
Mas quem acha que liberdade nas decisões é sinônimo de falta
de liderança e gerenciamento, está muito enganado. Não é possível uma gestão
descentralizada, sem alguém para orientar a equipe. Para Gustavo D'Avila,
master coach e membro da Sociedade Brasileira de Coaching, a função do líder
nesse modelo de empresa é conduzir os profissionais e dar significado ao
trabalho desenvolvido por eles. "O líder deve mostrar o norte,
compartilhar a visão e os objetivos a serem alcançados, criar condições nas
quais os colaboradores possam utilizar mais suas inteligências e conhecimentos,
fazendo com que seus talentos sejam explorados". Para isso, Gustavo
explica que "o líder deve valorizar a transparência, a credibilidade e
gerar um ambiente de confiança".
Empowerment: não para
todos
Quando você tem uma equipe preparada para trabalhar é ótimo
quando o empowerment acontece. Mas, cuidado: nem sempre isso é viável. Karin
Parodi, diretora executiva da Career Center, consultoria em recursos humanos,
destaca que "não é possível dar total empowerment em todos os projetos.
Algumas decisões realmente devem ser tomadas pelo alto comando da empresa.
"Além disso, esse modelo de administração só funciona quando a equipe está
bem preparada. Não se pode fazer um empowerment de um dia para outro. Ele exige
maturidade da equipe e acompanhamento do líder. Todos têm de ser maduros o
suficiente para correr riscos e entregar as metas como determinadas",
destaca Karin.
De acordo com o coach Gustavo, é nesse ponto que pode estar
o problema: falta coragem para muitos em participar efetivamente do ambiente de
trabalho. "Tenho uma percepção que há, de certa forma, uma crise de
responsabilidade entre as pessoas e, com isso, muitas preferem optar pelo papel
de vítimas, por medo de decidir alguma coisa". Para o coach, até num
simples almoço em grupo é possível visualizar isso. "Alguém sempre
pergunta: aonde vamos almoçar hoje? Alguns desconversam para não responder,
pois receiam que sua indicação seja rejeitada. Acredito que as pessoas devam
rever como se posicionam, promovendo, se necessário, uma mudança do papel de
vítima para o de protagonista de suas ações. A partir deste momento, elas
tornam-se aptas a atuarem em alto desempenho e num ambiente que adote o
empowerment. Caso contrário, não serão efetivas e perderão espaço em seus
trabalhos", comenta Gustavo.
A consultora Karin explica que, antes de tudo, é preciso
entender que esse modelo pode beneficiar os dois lados – tanto o colaborador,
quanto a companhia. "O funcionário ganha em aperfeiçoamento e desenvolvimento
profissional, e a empresa pode obter mais em produtividade e em resultado. É
importante que, nesse processo, haja uma comunicação clara, seja estimulado a
troca de feedback entre todos, com uma liderança aberta à dúvida", indica.
Nesse contexto, um dos pilares fundamentais é a confiança.
O papel da alta administração numa organização
descentralizada é, antes de tudo, educacional e não operacional. Isso significa
que a gerência deve funcionar principalmente como conselheira e orientadora,
para que os funcionários tomem as melhores decisões.
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