Aumenta no Brasil a venda de sulfite com bagaço de cana-de-açúcar


Inovação e sustentabilidade são os princípios que guiaram o empresário paulistano Luiz Machado, 50, e seu sócio Guilherme de Prá para fundar a GCE Papéis, primeira empresa brasileira a desenvolver a técnica para produzir papel sulfite utilizando bagaço de cana-de-açúcar como matéria-prima.

A estratégia que ajuda a diminuir a poluição ambiental, ao mesmo tempo, representa economia de insumos. O material vem da sobra das indústrias de álcool, etanol e açúcar e, originalmente, seria aterrado ou incinerado. Caso utilizasse eucaliptos, como nas indústrias tradicionais, o empresário estima que teria um custo de produção até 20% maior.

Segundo Machado, a produção de papel com bagaço de cana já existe há mais de 60 anos. A novidade foi desenvolver folhas de sulfite (A4) com o material que seria descartado. A GCE Papéis é detentora da Ecoquality, primeira marca registrada do país a produzir A4 com bagaço de cana.

“O papel A4 precisa ter um rigor muito grande na produção porque é usado em aparelhos de fax e impressoras a laser e a tinta. Pegamos um produto que já existia, mas era subjugado e desconhecido, e trouxemos para o formato mais usado, com a mesma qualidade do papel convencional”, afirma.


Atuação é maior no exterior, mas empresa quer ganhar mercado brasileiro
A produção, no entanto, não é feita no país. A GCE Papéis aciona duas fábricas parceiras no exterior, uma na Argentina e outra na Colômbia, e gerencia o processo pela sede administrativa em São Paulo (SP).

Nos países onde estão instaladas, as indústrias utilizam energia a gás, que é mais barata. De acordo com Machado, manter fábricas no Brasil traria custos maiores por conta do alto valor da energia elétrica.

Somadas as duas fábricas, a capacidade de produção da empresa é de 620 mil toneladas de papel por mês, desde o A4 até as bobinas de papel que vão para gráficas e editoras. Todos os produtos são feitos com base no bagaço da cana-de-açúcar.

Os principais mercados atendidos também são externos. Estados Unidos, Holanda, México, Argentina, Venezuela e Colômbia são alguns dos países atendidos pela empresa brasileira. 

Estar fora do país se reflete em uma baixa participação no mercado nacional. A GCE Papéis responde por apenas 1,1% do mercado brasileiro (varejo e atacado). Até 2014, a meta é chegar aos 2,5%. Se olhado apenas o mercado de varejo, a participação da empresa é maior: 8%. A meta até 2013 é aumentar essa fatia para 25%. 

O grande público do empresário é o setor corporativo, estratégia que vem desde a criação do negócio, há cinco anos. Porém, em 2012, a empresa pretende ampliar suas vendas para o consumidor final. Priorizamos o setor corporativo porque precisávamos criar uma massa de consumidores. As pessoas não desejam aquilo que não conhecem”, diz Machado.

Qualidade e preço se equivalem ao papel convencional
De acordo com o empreendedor, a qualidade e o preço dos papéis feitos com bagaço de cana-de-açúcar se equivalem aos tradicionais, produzidos com celulose de eucalipto. O papel, inclusive, mantém a cor branca, diferenciando-se dos papéis reciclados que apresentam coloração parda e fibras aparentes.

“Um leigo não consegue perceber diferença. Nossa dificuldade, no inicio, foi mostrar para o cliente que o papel era produzido em escala industrial e não artesanal, com preço e a qualidade iguais. Existe uma associação equivocada de que o reciclado é de qualidade inferior”, declara.

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