Cultura visual ganha força nas empresas e cria novas profissões


Transformar documentos que fazem parte da rotina das empresas, como atas de reunião, balanços e relatórios em materiais visualmente interessantes, de fácil compreensão e interpretação, está gerando carreiras promissoras ligadas ao design de informação.
Mila Motomura trabalha como designer de informação
Tarefas como facilitação gráfica, consultoria de visualização de dados, de apresentações corporativas e design de interação são todas subdivisões do design de informação.

Com planilhas eletrônicas e com o aumento da presença de empresas na web, os negócios passaram a gerar mais dados do que nunca. Como consequência, a demanda por esses serviços de "tradução" de informação têm crescido.

Todas as áreas de um negócio têm suas métricas: a prospecção de mercado, a produtividade, o marketing, as vendas etc. "Antes, a tabulação de todas essas informações era feita à mão. Hoje, monta-se uma máscara e os dados vão entrando automaticamente, e o tempo inteiro", diz Djair Picchai, professor de administração da FGV (Fundação Getulio Vargas).



AFOGADOS EM DADOS

O problema dessa quantidade de dados é que, com muitos números, fica difícil saber o que é importante. E sair desse enrosco é justamente o nicho de mercado dos designers de informação: mostrar o que realmente precisa ser visto.

Daniel Souza, 34, é um dos que enxergaram oportunidade profissional nesse flanco. Ele dá workshops de "dataviz" (corruptela em inglês para visualização de dados).

"Muitas vezes, as informações que o negócio gera viram relatórios que ficam engavetados", diz. Para ele, um documento que faz sentido deve ser sucinto e fácil de ser compreendido. Para isso, "há técnicas de classificação, filtragem e formatação de conjuntos de dados".

A ideia é tornar gerentes e analistas capazes de criar esses relatórios para que eles fiquem longe da gaveta.

Daniel Souza ministra workshops para ajudar pessoas a fazerem relatórios mais interessantes
Em seus cursos (que custam de R$ 4.000 a R$ 5.000 e duram um dia), ele ensina grupos de cerca de dez pessoas a converter dados heterogêneos em informação homogênea, a saber qual gráfico utilizar em cada situação -por exemplo, o de barras serve para comparar- e fazer isso de uma forma visualmente atrativa (algumas dicas: usar poucas cores e evitar muitas legendas para não poluir as páginas).

"Quem pega o material precisa bater o olho e entender o que acontece", diz a RP Mariana Oliveira, 25, que prepara relatórios para os clientes da Ogilvy, agência de publicidade na qual trabalha. Ela foi uma das alunas de Souza.

PINTURA DE REUNIÃO

Mila Motomura (primeira foto), 38, vive de desenhar com a caneta. Ela vai a reuniões de empresas, ouve o que é dito e coloca o que é mais importante no papel, de forma gráfica. Ou seja, ela faz, na hora, uma ata desenhada da reunião.

Às vezes, ela leva um finalizador, um desenhista que completa, com cores e formas, as ideias visuais que ela esboça no papel.

O objetivo é que, com o desenho, "o grupo [que participa do encontro que ela está ilustrando] enxergue o resultado da reunião e consiga tomar decisões", diz Motomura.

Um de seus clientes, a CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica) fez recentemente uma reunião para que as diferentes áreas da empresa entendessem o que cada uma faz.

O desenho de Motomura virou um quadro de três metros de comprimento por um metro de altura, que, segundo o gerente Rodolfo Aiex, 39, vai ganhar um espaço de destaque no prédio da CCEE.

RECUSANDO TRABALHO

O que Motomura faz também se enquadra em design de informação, mas essa atividade específica é chamada de facilitação gráfica.

Motomura cobra até R$ 4.800 por dia de trabalho, está com a agenda cheia e nas últimas semanas andou recusando trabalhos.

A Atrium Consultoria, uma das pioneiras nessa área de facilitação gráfica, também tem recebido mais clientes.

No início, em 2006, eram atendidas 30 empresas por ano. Hoje, são mais de 150. "As pessoas vão perceber que não é só algo lúdico. É uma ferramenta de aprendizagem", afirma Donatella Pastorino, 41, sócia da empresa.

O aumento da demanda por esse tipo de serviço é um reflexo da maior familiaridade das pessoas com a linguagem visual, "principalmente por causa da interface dos computadores e da internet", explica Gisela Schulzinger, professora da graduação em Design da ESPM.

Para ela, "há mais ícones reconhecidos por todos, e isso torna mais fácil a retenção da informação visual" em detrimento do que é informado por textos.

TODOS SÃO DESIGNERS
Fabrício Dore Magalhães é designer de interação no Itaú-Unibanco
Design não é uma carreira regulamentada, e, por isso, não são somente pessoas formadas na área que podem trabalhar com design de informação. Motomura cursou psicologia; Souza, tecnologia da informação.

O essencial nessas funções, diz a professora Schulzinger, é ter compromisso com o conteúdo que irá transmitir e dominar ferramentas e conceitos de semiótica, iconografia e tipografia.

"Esse mercado é um campo imenso e vai demorar muito para se esgotar", afirma Carla Spinillo, professora de design da Universidade Federal do Paraná e membro da Sociedade Brasileira de Design de Informação.

Um desses campos é o das apresentações corporativas. Joni Galvão, 43, um dos sócios da agência Soap, especializada nesse mercado, diz que "a grande maioria das apresentações em Power Point não é visualmente interessante."

Quem prepara as apresentações corporativas não são designers, "em geral são diretores de empresas que não têm tempo ou know-how para fazer um slide graficamente interessante e nem para garantir que 40 quadros tenham unidade, com as mesmas cores e padrão gráfico", diz.

O empresário exemplifica uma imagem, que, segundo ele, é um clichê frequente: um desenho de mãos dadas para simbolizar uma parceria.

Galvão recomenda o uso de imagens que não sejam tão explícitas: "Se o apresentador diz que a empresa está bem, vale colocar uma bola bonita, por exemplo, para ilustrar que o negócio está com a bola cheia", exemplifica. A ideia é que a imagem ilustre o que está sendo dito, porém não literalmente.

A agência se especializou em prestar esse serviço. O pacote completo de uma apresentação, que inclui roteirização do texto, preparação e produção do material em Power Point sai por R$ 15 mil. Se o cliente quiser só a parte visual dos slides, paga R$ 6 mil.

A COR DO CONSUMO
Joni Galvão é um dos sócios da agência Soup, especializada em apresentações corporativas
"Todos os dias eu faço um teste para ver qual é a melhor cor de um botão [em uma página de comércio digital] para que as pessoas cliquem mais e para que comprem mais", diz Amyris Fernandez, professora do curso de design de interação da Faculdade Impacta.

Design de interação é uma função que vem ganhando espaço com o crescimento do comércio on-line. A função desses profissionais pode ser simplificada como sendo a de um "testador" oficial.

Eles trabalham, principalmente, com meios digitais, como sites ou aplicativos. Os designers de interação entram nas páginas das empresas na internet, navegam como se fossem um cliente e, depois, apontam para a companhia o que não está funcionando, o que poderia melhorar para tornar a navegação mais prática - e, claro, mais rentável para aquele negócio.

Depois disso, explica Fabrício Dore, 31, designer de interação do Itaú-Unibanco, eles montam protótipos de como o site deveria ser e entregam o projeto para os programadores.

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