Em voga no mundo corporativo, o conceito de
"coaching" é uma espécie de terapia para a carreira, na qual o
executivo vai a sessões com um consultor externo para discutir a vida
profissional. Agora, como alternativa, organizações têm usado "coaches"
(treinadores) internos.
São profissionais de recursos humanos e executivos da
própria empresa treinados para ajudar outros funcionários a desenvolver a
carreira e a melhorar o desempenho.
![]() |
Fernanda Abraão, gerente de trade marketing da Unilever, foi
'treinada' por Marcelo Costa, diretor da empresa
|
A Unilever é uma das empresas que implementaram a prática de
"coaching" interno entre seus funcionários. Em 2011, Marcelo Costa,
um dos diretores da organização, foi "coach" da gerente Fernanda
Abraão.
Os dois tinham reuniões mensais -presenciais e por telefone-
para discutir dúvidas profissionais de Abraão e seu desenvolvimento na
carreira. Segundo ela, a participação no programa não era obrigatória, mas a
aderência foi alta. "Tivemos a liberdade de escolher quem seria nosso
'coach', de acordo com critérios como experiência e admiração", conta.
"O 'coach', nesse caso, não é uma pessoa neutra, mas
consegue dar indicações de caminhos a seguir justamente por conhecer bem a
realidade e as possibilidades da empresa", afirma Abraão.
Ela afirma ter aprendido a gerenciar pessoas e a delegar
melhor as atividades, habilidades que aplica diariamente. Ainda que a prática
oficial, com duração de um ano, tenha acabado, Abraão diz sentir-se à vontade
para procurar o mentor para tirar dúvidas profissionais até hoje.
Segundo Jaqueline Weigel, diretora da Integração Escola de
Negócios, a modalidade é uma ferramenta poderosa e preenche uma lacuna dos
líderes no desenvolvimento e na motivação de pessoas. Ela afirma que a prática
"é uma tendência forte entre as empresas em 2013".
"Enquanto o setor de recursos humanos costuma dar
medidas e soluções, o 'coaching' interno vai além: faz o profissional se
desenvolver e achar outras formas de funcionar dentro da empresa."
O funcionário é quem mais se beneficia com a prática,
segundo Weigel. "Ele ganha em planos para desenvolver a própria carreira,
tem uma oportunidade de aprendizado e suporte de alguém dentro da
corporação", afirma.
Ela destaca que a metodologia tem restrições: não costuma
funcionar, por exemplo, para alta gerência, "porque há conflito de
interesses".
NOVOS CAMINHOS
Empresas como o banco Bradesco, o grupo Andrade Gutierrez e
as Lojas Renner também já utilizaram o sistema de "coaching" interno
entre os funcionários.
Stella Oliveira, que foi coordenadora da área de recursos
humanos de uma rede de vestuário, conta que a maior dificuldade ao iniciar o
processo foi a quebra de paradigmas. "Os profissionais do RH que se
tornaram 'coaches' deixaram de entregar soluções prontas para os problemas dos
funcionários e passaram a instigá-los a encontrar estratégias por si só."
Oliveira conta ainda que o programa foi importante para
ajudar os funcionários a definir intenções na carreira, que muitas vezes não
estavam claras.
A gestora, que atualmente coordena a área de recursos
humanos do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia),
diz que, na instituição, também há estudos sobre desenvolvimento de liderança e
projetos que incluem a aplicação de processos de "coaching" interno
no futuro.
Para Hélio Castro, sócio da Horton International, empresa
especializada em seleção de executivos e "coaching", o principal
benefício do processo é que o responsável pelo treinamento conhece bem o
ambiente e a cultura da empresa. "Ele sabe orientar o funcionário sobre o
que pode agregar à experiência na organização."
Castro lembra, porém, que confidencialidade é um
fator-chave. "As informações compartilhadas na conversa entre 'coach' e
funcionário não devem ser usadas fora dali." O ideal, segundo o especialista, é que a prática feita
internamente não substitua o "coaching" externo.
"Enquanto o mentor de dentro da empresa pode ser uma
espécie de modelo que ajuda a desenvolver a carreira dos funcionários, o
consultor externo passa uma visão mais ampla do mercado."
Comentários
Postar um comentário