Brasileira está entre os três maiores conhecedores de cerveja do mundo.

Ela é loira, magrinha, tem dois filhos e é formada em design gráfico. Tatiana Spogis foge de qualquer esteriótipo de uma amante de cerveja, mas acaba de voltar da Alemanha com a terceira colocação no Campeonato Mundial de Beer Sommelier. Posto que nenhum outro brasileiro ocupou até agora.


"Eu sempre gostei de cerveja, mas a história é longa". Formada em design gráfico, Tatiana começou a trabalhar em uma empresa cujo dono tinha uma importadora de bebidas e os planos de trazer a Erdinger para o Brasil. A proposta era ajudar na missão do lançamento da marca. "Eu topei o desafio, mas só concordei em ir para a importadora depois de saber que a proposta era trabalhar com a educação cervejeira. Eu não concordo com esta comunicação das marcas de cerveja que mostram peito e bunda e não falam nada sobre o produto", conta.

Ela foi atrás de informação em uma época em que os cursos não existiam. Foi fazer treinamento direto nas cervejarias, cursou Análise Sensorial na Unicamp e ajudou a montar o curso de beer sommelier no Senac com o apoio de Cilene Saorin, um nome importante no meio da cerveja brasileira.

Campeonato

O Campeonato Mundial de Sommelier de Cerveja foi realizado em Munique, na Alemanha. Cada sommelier só pode participar uma vez até que seu país de origem seja sede da competição. Cilene representou o Brasil em 2012 e indicou a pupila para a edição deste ano.



A competição é composta por quatro fases: degustação às cegas (para descobrir características inseridas na bebida), desvendar o estilo e a marca de cada amostra, prova teórica e sugestões de harmonização. A final é uma aula para os jurados. "São três cervejas diferentes. Nós escolhemos uma e temos que fazer a demonstração. Eu não conhecia nenhuma das que me deram. O importante também é mostrar o serviço da cerveja, encantar com a bebida, que é o trabalho do sommelier".

Mulheres e cervejas 

Além de Tatiana, mais uma mulher chegou à final. "O universo da cerveja é muito masculino, mas hoje está mudando. Nas palestras que eu dou já dá para perceber um público feminino de 30% ou 40%", relata.

Mas nem sempre é fácil lidar com os comentários e piadinhas às vezes machistas. "Falam que eu sou a mulher perfeita para casar porque entendo de cerveja, por exemplo. Eu levo na brincadeira, mas tem que ter jogo de cintura", revela. "Ainda existe o esteriótipo da cerveja relacionada com homens bêbados, que tomam um produto de baixa qualidade e de massa. A mulher sempre está relacionada a algo mais sofisticado, que tem tudo a ver com serviço da cerveja. A cultura da cerveja especial, do ritual, da taça bonita impregna este mundo com delicadeza", afirma.

"Quando eu comecei a trabalhar com cerveja, minha mãe me disse que só faltava eu virar alcoólatra  Mas eu aprendi a beber e ter prazer nos pequenos goles", revela.

Mudar a cultura da cerveja no Brasil é uma missão para a sommeliere. "Quando as pessoas são apresentadas às cervejas de qualidade é um caminho que não tem volta. As pessoas querem mostrar o conhecimento que tem, isto aconteceu com o vinho também. Além disso, quando os restaurantes escolhem um super chef, montam uma super adega e contratam um super arquiteto, não podem servir a mesma cerveja do pé sujo da esquina e acabam investindo nesta área também", explica.

Dicas para beber cerveja 

Beber a cerveja estupidamente gelada é mania nacional. "Brasileiro ama cerveja, mas não sabe do que é feita. As cervejas populares são boas naquilo que se prestam, tem paladar neutro para agradar a maioria. Elas são servidas bem geladas para refrescar e também para encobrir defeitos. A cerveja é muito sensível e pode sofrer alterações facilmente. A temperatura gelada amortece a língua", diz. " Quando ela ganha temperatura no copo fica mais fácil perceber as características", completa. 

Mas calma, isso não significa tomar cerveja quente na próxima mesa de bar. "Cada estilo é melhor apreciado em uma determinada temperatura. Algumas ficam ótimas a 6°C. O ideal é quanto maior o teor alcoólico, maior a temperatura", diz. "O paladar também tem tudo a ver com a cultura local, é importante experimentar para maturá-lo."

Com o tempo dá para começar a treinar o paladar e vai ficar mais fácil ousar mais. "A dica para começar a degustar é sair para beber com os amigos e fazer com que cada um peça uma long neck diferente, assim todo mundo experimenta e você já tem uma degustação pronta. Particicipar de palestras, ler livros sobre o assunto e fazer clubes de assinatura também são interessantes" aconselha Tatiana.

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